Na
antiga Boêmia (atual República
Tcheca),
estava diante de uma multidão confusa, um cidadão prestes a ser
punido na fogueira. Um grande teólogo e professor, acusado pelo
Concílio de Constança (1415) de estar proferindo heresias e de
afrontar o Papa. Alguns se perguntavam como um justo e bom cavalheiro
fora terminar a carreira numa condição tão cruel. Outros,
questionavam se os motivos que o lançaram para a morte mereciam
tamanho sacrifício. Afinal de contas, tratava-se de uma vida humana,
uma mente brilhante sendo desperdiçada por causa de posicionamentos
teológicos. Isso mesmo: o acusado havia interpretado as Escrituras e
declarado abertamente, que a instituição cristã oficial da
nação estava errada.
A
população lamentava a execução daquele homem “cabeça dura”.
Bastava ao teimoso ceder, declarar para o príncipe Ludwig que não
tinha certeza de sua teoria, que estava arrependido e pronto, ficaria
salvo, livre da justiça corrompida dos homens.
Uma
dúvida permanecia na ar: ou esse sujeito é um sábio, iluminado
pelo Espírito Santo e comprometido com a maior missão de toda a sua
existência, ou ele é um tolo, um “sem noção” pagando com a
própria vida o fruto de sua pesquisa teológica mal sucedida. “Só
que não”, o sujeito estava realmente alinhado às verdades
bíblicas.
Em
resumo, esse falador corajoso queria ensinar ao povo: que somente
Cristo é o Cabeça da igreja, não o Papa; que ser simplesmente
membro da instituição igreja não garante a salvação da alma,
pois apenas aqueles que foram escolhidos por Deus antes da fundação
do mundo são salvos pela fé na pessoa de Jesus Cristo; que a Salvação é uma graça de Deus, por isso ela não pode ser
comercializada pelos homens; que somente a Bíblia é a regra de fé
e prática.
Antes
das chamas de fogo inflamarem o condenado ele respondeu aos seu
acusadores assim: “assarão um ganso agora, mas em cem anos ouvirão
um cisne cantar e terão que aguentá-lo”. Por fim, diante de
todos, a imagem do homem se consumiu, mas sua mensagem continuou viva
ecoando na história da Igreja, florescendo cem anos depois na figura do reformador
Martinho Lutero, pois o próprio Lutero se definiu assim: como a providência
prometida no passado, para trazer da parte de Deus a Reforma na
Igreja de Jesus Cristo.
A
missão do homem da fogueira era ensinar a verdade, ainda que de uma
forma estranha. Seu sacrifíco revelou a legítima mensagem da Graça
de Deus, motivando outros ícones da Reforma Protestante a entregarem
suas vidas em nome do verdadeiro Evangelho. Seu nome: John Huss, o
grande pré-reformador que inspirou Martinho Lutero.
Ailton de Oliveira
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