domingo, 10 de dezembro de 2017

John Huss – uma estranha maneira de ensinar a Verdade

Na antiga Boêmia (atual República Tcheca), estava diante de uma multidão confusa, um cidadão prestes a ser punido na fogueira. Um grande teólogo e professor, acusado pelo Concílio de Constança (1415) de estar proferindo heresias e de afrontar o Papa. Alguns se perguntavam como um justo e bom cavalheiro fora terminar a carreira numa condição tão cruel. Outros, questionavam se os motivos que o lançaram para a morte mereciam tamanho sacrifício. Afinal de contas, tratava-se de uma vida humana, uma mente brilhante sendo desperdiçada por causa de posicionamentos teológicos. Isso mesmo: o acusado havia interpretado as Escrituras e declarado abertamente, que a instituição cristã oficial da nação estava errada.

A população lamentava a execução daquele homem “cabeça dura”. Bastava ao teimoso ceder, declarar para o príncipe Ludwig que não tinha certeza de sua teoria, que estava arrependido e pronto, ficaria salvo, livre da justiça corrompida dos homens.

Uma dúvida permanecia na ar: ou esse sujeito é um sábio, iluminado pelo Espírito Santo e comprometido com a maior missão de toda a sua existência, ou ele é um tolo, um “sem noção” pagando com a própria vida o fruto de sua pesquisa teológica mal sucedida. “Só que não”, o sujeito estava realmente alinhado às verdades bíblicas.

Em resumo, esse falador corajoso queria ensinar ao povo: que somente Cristo é o Cabeça da igreja, não o Papa; que ser simplesmente membro da instituição igreja não garante a salvação da alma, pois apenas aqueles que foram escolhidos por Deus antes da fundação do mundo são salvos pela fé na pessoa de Jesus Cristo; que a Salvação é uma graça de Deus, por isso ela não pode ser comercializada pelos homens; que somente a Bíblia é a regra de fé e prática.

Antes das chamas de fogo inflamarem o condenado ele respondeu aos seu acusadores assim: “assarão um ganso agora, mas em cem anos ouvirão um cisne cantar e terão que aguentá-lo”. Por fim, diante de todos, a imagem do homem se consumiu, mas sua mensagem continuou viva ecoando na história da Igreja, florescendo cem anos depois na figura do reformador Martinho Lutero, pois o próprio Lutero se definiu assim: como a providência prometida no passado, para trazer da parte de Deus a Reforma na Igreja de Jesus Cristo.

A missão do homem da fogueira era ensinar a verdade, ainda que de uma forma estranha. Seu sacrifíco revelou a legítima mensagem da Graça de Deus, motivando outros ícones da Reforma Protestante a entregarem suas vidas em nome do verdadeiro Evangelho. Seu nome: John Huss, o grande pré-reformador que inspirou Martinho Lutero.

Ailton de Oliveira
 

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