terça-feira, 13 de março de 2018

Frankenstein - quando a rejeição dá vida ao monstro

"Ainda que meu pai e minha mãe me desamparassem, o Senhor me recolheria." (Salmo 27:1)
 
Da literatura para as adaptações do cinema, o monstro de Frankenstein criado pela escritora inglesa Mary Shelley (1797-1851), protagonizou muitos filmes de horror, na imagem da criatura demoníaca e brutal. Entretanto, o conteúdo original deste romance de terror gótico retrata, muito mais, a relação entre pai e filho, do que simplesmente provocar medo em espectadores viciados em susto.

O criador do monstro, Victor Frankenstein, era um universitário apaixonado por filosofia e ciências, que comovido com a grande mortandade de sua época, debruçou-se meses, madrugadas a fio, na busca pela cura de doenças e por uma fórmula capaz de impedir a morte. Ele era um homem bom do tipo que trabalha muito.

Em pouco tempo, Victor descobriu como manipular a energia elétrica, para fins de reanimar organismos mortos. Obstinado, sem limites, ele utilizava em suas experiências, cadáveres de pessoas que a peste ia matando. A igreja não podia saber, pois seu método era profano; seu distanciamento familiar era uma escolha sacrificial; seu isolamento social era uma questão de foco. Foi difícil, mas no fim de tudo, ele consegui criar algo que logo despertaria.

Ouve-se o ruído da experiência tentando respirar. Confusa, a coisa se ergue, procurando um abraço, um colo de pai. Seus olhos avistam um tipo de deus e clama por sua mão quente, por proteção, por demonstrações de afeto. Porém, Victor não corresponde, porque não vê nada, a não ser um projeto experimental mal sucedido, algo medonho. A experiência caminha em sua direção, estranhando a falta de acolhimento, assimilando os primeiros pensamentos de sua vida: ele não gosta de mim, ele não precisa de mim, ele não me quer! Isso doeu, machucou lá dentro, já era um coração! Na tentativa de se livrar, Victor empurra a experiência escada a baixo. Ela cai. Enquanto sente na pele as fisgadas dos degraus, sua alma chora. Então ela foge dali, pra longe daquele lugar, daquela dor.

Rejeitada por seu criador, pela sociedade, sem amigo e sem valor, a criatura se refugia na amargura, na defensiva do mundo, até que descobre o peso da sua mão. Eu também sei machucar! Assim ela pensa. A fúria emerge da dor deixando um rastro de sangue pelo caminho. Onde havia um coração, existe agora um monstro, criado na rejeição, pela rejeição de um pai.

A obra, Frankenstein, é tocante, pois me faz refletir não especificamente na minha situação particular de filho e de pai, mas, nos tipos de pais que a vida moderna nos força a ser: um sujeito que precisa trabalhar muito, impaciente, que não tem tempo para os filhos, e por isso, em muitos casos eles se sentem rejeitados. A falta de afeto do pai para com seu filho, pode transformar um coração que ama em sofrimento para ambos, tornando o filho aos olhos do pai, um monstro. Quem sabe, a história podia ser diferente?

O livro de Gênesis também conta a história de um Pai (Deus), que criou uma experiência boa (o homem), mas ao contrario do Monstro de Frankenstein, na Bíblia foi a criatura quem errou, pecando contra Deus, tornando-se um monstro amargurado que rejeita o Pai, decidindo acreditar que não precisa do Pai. Após a queda da criatura (o pecado), seu Criador não a abandonou, mas, estendeu-lhe sua graciosa mão quente com amor, iniciando imediatamente um plano para resgatar à aliança com o ser que havia criado.

E você, qual é a sua situação? Ainda há tempo de mudar a história, acredite, ainda há tempo.

Se você é pai, procure seu filho agora, demonstre afeto, dê-lhe um abraço! Ainda há tempo.

Se você é filho, procure seu pai agora, pegue em sua mão, dê-lhe um abraço! Ainda há tempo.

Não deixe que a rejeição, a intolerância, os desafetos e a falta de atenção crie um monstro na relação. Volte para o amor! Deus é a fonte do amor, volte para Deus agora, cante um louvor, faça uma oração! O Pai espera por você. Ainda há tempo.

Ainda há tempo.
 
Ailton de Oliveira