terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

A Espera

“Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês’, diz o Senhor, ‘planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro” (Jeremias 29.11).

Nove meses de gestação precedem a alegria de se ter nos braços, a criaturinha mais fofa desse mundo. Enquanto envolvido pelo âmago da mãe, que com paciência o espera, o pequeno ser apenas repousa ensaiando seus primeiros movimentos. Mas imagine, se o feto adquirisse consciência prematura além da realidade e fizesse ao útero as seguintes indagações: por que devo permanecer tanto tempo cativo neste lugar?; não entendo porquê este nariz, se aqui não posso usar os pulmões!; para quê pernas, se aqui não posso correr?; para quê olhos, se aqui não posso abri-los? Um coração batendo ali por perto, com ternura responderia: descanse agitada criança! Pois você está sendo preparado para algo além deste lugar, além deste tempo.

Impaciência é um sentimento mais antigo que a história de Israel. Quando a insegurança sitiou Jerusalém, milhares de pais e mães não sabiam o que esperar do futuro de suas famílias, pois o inimigo era a maior potência bélica em 587 a.C.: a Babilônia. Em meio à crise de tudo nesse contexto de invasão militar, Jeremias não enganou as pessoas com previsões fantasiosas, como fazem até hoje os falsos profetas, mas dedicou-se a ensinar o povo a esperar em Deus, apesar do desconfortável aprisionamento no território do inimigo. Além disso, profetizou um tempo futuro de grande alegria, no qual, os cativos iriam retornar a Sião, à terra de origem, ao lugar de adoração ao Senhor, determinado para acontecer após setenta anos de cativeiro.

O tempo de uma geração inteira deveria ser cumprido, enquanto o povo se preparava para receber a promessa. Sob o jugo do Rei Nabucodonosor, quantos pobres exilados devem ter questionado o profeta, dizendo: até quando permaneceremos cativos neste lugar?!

Alienado de Deus, o mundo pós-moderno também reclama dos contratempos do dia-a-dia, xinga no trânsito, posta memes sobre os problemas da vida no Facebook e canta: Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades. O tempo não para…” (Cazuza). Mas, quem nunca falou: “até quando...?”, que atire a primeira pedra. Espere, não fique desanimado!

Desanimado fica o coração daquele que espera só, cativo no escuro vazio da solidão, longe da comunhão dos amigos, da igreja, ouvindo ruídos lá de fora ou quem sabe, do próprio coração, sonhando enquanto chuta as paredes da monotonia, tentando dilatar sua realidade presente. Esperar juntos é melhor do que estar só.

Sua bênção está demorando? Mas, quem você pensa que é para não esperar?! Enquanto você se revira angustiado, há pessoas esperando um alento: uma gestante sente dores; existem meninos que não conhecem o pai; há pessoas na fila preenchendo ficha de emprego; há pessoas pedindo doação de sangue; o remédio de um aposentado acabou e seu salário só sai no dia cinco; o resultado do exame saiu e o médico pediu ao moço para refazê-lo; um pai descobriu que a esposa foi embora e levou o filho; de madrugada, uma mãe olha para o relógio enquanto aguarda a filha chegar; um idoso contempla os filhos através de retratos antigos. O homem é um ser que sonha, que espera, mas às vezes, não consegue. “Não é bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado” (Provérbios 19:2).
 

Desejo, propósito, missão, tantas contrações há nesse bonde chamado desejo! No coração, a paixão cresce sem prever se vai dar certo ou não. Por isso, sigamos o caminho da luz que faz o homem nascer de novo: a Palavra de Deus. “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para o meu caminho” (Salmo 119: 105). Sonhar é como se remexer dentro de um útero.

Espere! Espere mais um pouco! Prepare-se para o que está por vir! Enquanto espera, aprenda a observar e ouvir as pessoas; estude com afinco; amadureça seus relacionamentos; lute contra as dificuldades; busque a sabedoria através da paciência; desenvolva habilidades através da perseverança; e renove as suas esperanças através da fé, pois o hoje é um útero e você está sendo novamente formado(a), sob os cuidados daquele que administra o cosmos e o tempo: Deus.

Tal como a mãe que aguarda ter nos braços seu amor, tal como a criança que espera a luz de uma nova vida, no tempo certo os filhos de Deus cantarão: “grandes coisas fez o Senhor por nós, pelas quais estamos alegres” (Salmo 126: 3). Saber esperar é uma virtude.

Espere em Deus! Ele é nossa esperança para sempre.

Amém!

Ailton de Oliveira