segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Gente que esquece

“... a glória dos idosos, está nos seus cabelos brancos” (Provérbios 20:29).

A terceira idade está vivendo mais. Crescente é a faixa de idosos nas metrópoles, que precisam se adaptar à velocidade do mundo pós-moderno. Gente que esquece de coisas e de nomes, igual a gente. Gente que anda devagar, porque já passou dos oitenta, divide espaço com quem anda depressa.

"Ando devagar, porque já tive pressa e levo esse sorriso, porque já chorei demais. [...] Como um velho boiadeiro levando a boiada, eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou, estrada eu sou..." (Tocando em frente - Almir Sater).

Disputando espaço no comércio, lá vai a carrocinha de biscoitos empurrada pelo velhinho. Seus produtos parecem ótimos, mas suas mãos tremem e os joelhos doem no final da tarde. Às vezes, ele esquece de tomar o remédio. Só o dinheiro da aposentadoria não lhe basta, por isso, o ancião esquece a fadiga e a hora de parar.

Um ônibus passou sem parar. O próximo encostou no ponto, deslocando-se lentamente já na intenção de partir, sugerindo à senhorinha que embarque no veículo em movimento. Ela apressa o passo e percebe que os degraus são altos demais para pessoas da sua idade, mas segurando na porta, consegue subir. A anciã tenta se equilibrar buscando um assento disponível, mas o motorista não espera e arranca. Tem gente que esquece de dar uma força à quem já gastou sua força cuidando da gente.

"Levantem-se na presença dos idosos, honrem os anciãos, temam o seu Deus. Eu sou o Senhor" (Levíticos 19:32).

O senhorinho esquecido que se atrapalha no balcão da loja, às vezes se irrita, às vezes sorri afavelmente, como quem suplica pela paciência do atendente, que tenta lhe explicar algo, diante do ser humano que gente nova não compreende. Tem gente que esquece de ouvir primeiro, para depois responder.

“Não repreenda asperamente o homem idoso, mas exorte-o como se ele fosse seu pai…” (1 Timóteo 5:1).

Alguém estressado emburra a cara e reclama de quem entrou na frente da fila. E na saidinha do banco, uma alma doentia esquece os sentimentos alheios e rouba a debilitada saúde do cidadão vulnerável, que anda desatento na calçada.

Mais comedida e menos sagaz, a senhora sabedoria tem cabelos brancos e observa a cegueira histórica das novas gerações, a saber, esses moços que falam palavras feias e mentiras nas redes de comunicação. Tem gente que destrata gente. Tem gente que esquece de ser gente.

“Da mesma forma, jovens, sujeitem-se aos mais velhos. Sejam todos humildes uns para com os outros, porque "Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes" (1 Pedro 5:5).

Que gente nova reconhecerá o vencedor, ao vê-lo acamado, sob os cuidados da enfermeira? Pela manhã, raios de sol acariciam seus cabelos brancos na varanda e na noite fria, o cobertor é o abraço, quando alguém esquece de abraçar o pai, a mãe, o avô ou a avó. Quem segurará sua mão no dia dor? Quem estará ao seu lado, quando a um passo da eternidade, o ser longevo esquecer nossos nomes e seu sorriso tornar-se uma lembrança?

“Mesmo na sua velhice, quando tiverem cabelos brancos, sou eu aquele, aquele que os susterá. Eu os fiz e eu os levarei; eu os sustentarei e eu os salvarei” (Isaías 46:4).


Talvez você tenha dificuldades para compreender as ideias e comportamentos dos idosos. Talvez você não tenha paciência ou tempo, para interagir com seus pais ou avós. Pois então não se esqueça: um dia a gente chega lá, se Deus quiser.

Ailton de Oliveira