sexta-feira, 29 de maio de 2020

Lockdown no Esconderijo do Altíssimo

“O que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente diz ao Senhor: Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem confio. Pois ele te livrará do laço do passarinheiro e da peste perniciosa. Cobrir-te-á com as suas penas, e, sob suas asas, estarás seguro; a sua verdade é pavês e escudo. Não te assustarás do terror noturno, nem da seta que voa de dia, nem da peste que se propaga nas trevas, nem da mortandade que assola ao meio-dia. Caiam mil ao teu lado, e dez mil, à tua direita; tu não serás atingido” (Salmos 91:1-7).

O termo em inglês: Lockdown, significa confinamento. Uma medida de isolamento social rígida, que pode vir a ser adotado, se os índices de contágio por Covid-19 na cidade, extrapolarem a capacidade de atendimento clínico dos órgãos de saúde pública. A ideia que a proposta nos passa é, que o perigo está “lá fora”, mas no confinamento há segurança. Então, alguém pode perguntar: o que isso tem a ver com o Salmo 91?

O saltério fala sobre a proteção de Deus em um lugar, supostamente restrito, que o autor chama de: "esconderijo do Altíssimo". Esta reflexão pastoral, estabelece uma analogia entre o refúgio do salmista e o significado da palavra lockdown.

Não se pode detalhar exatamente os conflitos particulares do salmista em seu contexto peculiar, mas podemos sim, interpretar o propósito das figuras representativas utilizadas no seu recado, que são: esconderijo; flechas; sombra; sob suas asas; caiam mil à direita e outras. Portanto, que esta orientação bíblica terá aplicação prática em nossas vidas, se primeiramente, considerarmos que o esconderijo do Altíssimo corresponde às profundezas da alma de um homem crente, sendo habitada pelo Espírito de Deus, onde a escuridão do medo é transformada em luz de esperança, pela chama ardente da fé.

O homem do campo, sabendo como funciona o laço do passarinheiro, compara esse tipo de armadilha de passarinhos, às prováveis ciladas em seu caminho e declara que Deus o livrará. Sabendo que existem também, perigos biológicos no ar que podem fazer adoecer sua saúde, ele confia em Deus, certo de que só o Pai do Céu pode enxergar o inimigo invisível e livrar o homem da peste perniciosa.

A ave que cobre os filhotes debaixo das asas, é no imaginário fértil do poeta, tal como o escudo do guerreiro que o protege das flechas no campo de batalha. Portanto, no esconderijo do Altíssimo, todas as coisas são uma extensão do braço divino, amparando os soldados da fé.

E quando chega a noite e os medos existenciais assumem formas grotescas na escuridão dos pensamentos, o salmista simplesmente descansa em seu Lockdown iluminado pela Graça Divina, em seu quarto de oração, certo de que não perecerá sob terror noturno, pois a mente do poeta habita no esconderijo do Altíssimo. 

Em meio à uma pandemia, alguém perguntaria: como pode o salmista se tranquilizar assim, enquanto há peste lá fora se propagando nas trevas da ignorância? Como pode ele saber que a mortandade que assola ao meio dia não o atingirá? O mundo quer ver sinais, quer ver o milagres, quer entender tudo claramente.

Vale ressaltar, que a poesia hebraica pressupunha expectativas mais otimistas em seus resultados, do que se conformar com a situação dificultosa do próprio poeta em seus dias de vida sobre a Terra. Ao compararmos a história do povo de Israel com o discurso triunfalista do saltério, pode nos parecer, estar diante de alguém que vitória sobre uma bênção que espera ainda receber, porque sabemos que o povo de Israel vivenciou também, tempos de penúria, tempos de pestes, de confinamento, tempos de Lockdowns bíblicos.

À linguagem do Salmo 91 é simbólica, arquétipa e em certos trechos: triunfalista. Se ignorarmos que a poesia hebraica possui um gênero literário próprio, corremos o risco de distorcer o sentido e propósito do texto. Todos os saltérios são verdades em formato de rezas; de hinos; de poesias, que apresentam o cotidiano e a fé do povo do Antigo Testamento em orações, para ensinar e motivar os corações.

Entretanto, essa prática devocional de celebrar o livramento antes de acontecer a bênção, se faz providencial no tempo presente, pois se "a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem" (Hebreus 11:1), as verdades do Samo 91 gera nos nossos corações: sabedoria e confiança em Deus, enquanto estivermos em Lockdown no "esconderijo do Altíssimo".

Ao ler o verso sete, posso imaginar um guerreiro vendo milhares de flechas no ar viajando em sua direção e nesse instante, ele pergunta: como poderei não ser atingido por incontáveis dardos mortais? Mas ao lembrar-se do saltério que canta a vitória antes da vitória, uma vez que só lhe resta acreditar positivamente ou deixar que o medo o paralise, ele avança em defesa da vida, na certeza de que: "mil cairão ao seu lado e dez mil à sua direita, mas ele não será atingido”. Isso também é fé! Pois não importa se vai acontecer do jeito que se espera. O importante é confiar em Deus e avançar!

Importa-nos perceber, sobretudo, que o Salmo nos sugere habitar no esconderijo do Altíssimo e não simplesmente, fazermos um Lockdown conveniente, somente nas horas difíceis, porque habitar com Deus é ter consciência que o Onipotente está conosco permanentemente. E mais: confiar em Deus é como abrir uma porta pelo lado de dentro. Portanto, se Deus escolheu você, então, deixe Jesus entrar em seu coração e ali, se estabelecerá uma sala de oração, um Lockdown permanente, um esconderijo do Altíssimo, como assim bem diz Apocalipse 3:20: "Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo".

Talvez, ainda tenhamos que adotar muitos Lockdowns ao longo da nossa história, nesse mundo de pestes, de terrores noturnos, de mortandades. Contudo, não importam os resultados. O que importa é habitar no esconderijo do Altíssimo, pois Ele é o nosso refúgio, nosso baluarte, nosso Deus, em quem confiamos.

Ailton de Oliveira

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