segunda-feira, 22 de junho de 2020

Um mundo perfeito

"Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar. Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou" (Colossenses 3:8-10).

Na primeira cena do filme: "Um Mundo Perfeito", dirigido em 1993 por Clint Eastwood, mostra o menino Phillip, de 7 anos, sofrendo bullying dos coleguinhas da rua, só porque a religião de sua família o impedia de participar das brincadeiras de Halloween. A casa onde morava Philip com sua mãe e duas irmãs, naquela mesma noite é invadida pelo fugitivo Butch, interpretado pelo ator Kevin Costner, que depois de criar confusão com o vizinho e atrair a polícia, foge em um carro roubado, levando o menino como refém.

Durante uma longa viagem de fuga juntos, vivenciando situações arriscadas e algumas até divertidas, o menino encontra na companhia do bandido, a coragem para se libertar de complexos pessoais, acolhendo-o como pai amigo e protetor. No caso do Butch, ele via em Phillip mais que um filho, pois no passado desse presidiário foragido, existia a história do menino carente de afeto, mal tratado pelo pai agressivo. Como compensação de seus traumas da infância, Batch oferece ao Phillip, a atenção integral de um pai que ambos gostariam de ter.

É coerente crer que, a companhia de Butch significava o relaxamento moral na formação de qualquer criança. No entanto, o encontro entre a inocência infantil e a mente do bandido deformada pela violência, possibilitou pelo menos para essas duas pessoas, a sensação temporário de um mundo perfeito, onde havia amizade sincera e a confiança mútua que estes nunca haviam experimentado.

A viagem caminha para o desfecho previsível, quando Phillip pega o revólver e atira em Butch, para impedir que seu amigo bandido mate um homem que estava agredindo o próprio filho. Phillip chega a pensar, que seria castigado por isso, mas recebe do companheiro ferido, compreensão e perdão. 

O filme termina com a morte de Butch cercado pela polícia, despedindo-se de Phillip em uma cena emocionante. Dois personagens que se sentiam imperfeitos e rejeitados, encontraram um no outro em pouco tempo de convivência, o gostinho de um mundo perfeito.

Em sua carta aos irmãos de Colossos, o Apóstolo Paulo lhes recomenda uma postura mais humana, no propósito de se cultivar um mundo sem ira, sem indignação, sem maldade, sem maledicência, sem linguagem obscena e sem mentiras. A semeadura de um mundo perfeito, no qual se pressupõe o esforço do homem em espelhar a imagem daquele que o criou.

A sociedade que o apóstolo conhecia era intolerante com as pessoas consideradas diferentes. Os judeus se consideravam os homens mais próximos do Criador e alguns, diziam que os gregos deveriam ser circuncidados. Acreditavam que os rituais religiosos garantiam a aliança com Deus e consideravam os escravos e bárbaros, como pessoas excluídas das bênçãos divinas. Por isso, o Apóstolo Paulo adverte os cristãos, dizendo que o Evangelho se propõe a unir todos os povos em torno de um só Senhor, através da fé na pessoa de Jesus Cristo.

Pode-se interpretar na exortação apostólica, a ideia de um "mundo perfeito", onde prevalece o respeito e o perdão. Portanto, assim como Senhor nos perdoou, devemos perdoar uns aos outros. Mesmo porque, ser cristão não é um certificado de qualidade sociocultural, mas sim, ser o perfume de Cristo na Terra, pois o Evangelho nos capacita a olharmos com misericórdia para aqueles que o mundo desqualificou e a estendermos a mão para aqueles que estão caídos. O exemplo que nos inspira é um Deus que deixou sua Glória Perfeita e desceu ao mundo imperfeito, para resgatar os homens da morte espiritual.

Então, alguém pode perguntar: onde está o "mundo perfeito" nesse mundo imperfeito? 

Para mim, o mundo perfeito não está em esperarmos que todas as pessoas se tornem eficientes no que fazem ou mais capazes e infalíveis, eloquentes ou impressionantes, mas sim, que as pessoas se tornem mais tolerantes e compreensivas com aqueles que, aos olhos do mundo, são desqualificados por alguma razão. Para mim, a nossa perfeição não se define em alcançar "o mais", e sim em erguer a mão para levantar quem é "o menos".

Para mim, o mundo perfeito é o lugar onde as pessoas com dificuldades de alcançar algo têm sempre uma nova oportunidade de tentar; é o lugar onde o incapaz é ajudado sem ser menosprezado; onde ninguém é tido como desqualificado; onde quem decepciona é perdoado.

Em um mundo perfeito, o fraco caminha junto com o forte, o discípulo também ensina ao mestre; e o bandido pode se tornar menino e começar uma nova história.

Nas Palavras de Jesus, podemos encontrar um mundo perfeito.

Ailton de Oliveira

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