segunda-feira, 27 de abril de 2020

O pardal encontrou casa

“Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos! A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo! O pardal encontrou casa, e a andorinha, ninho para si, onde acolha os seus filhotes; eu, encontrei os teus altares, Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meu!” (Salmo 84:1-3).

Certo dia, eu estava limpando o madeiramento que fica debaixo do telhado da varanda e lá no cantinho, estava um ninho de pardal. Aquele emboladinho de palhas me incomodou, porque passarinhos fazem sujeira. Mas como havia ali um ovo em desenvolvimento, decidi não mexer no habitat do bichinho.

Então, eu improvisei uma casinha de passarinho e a coloquei bem próxima do ninho, querendo que a mamãe pardal se interessasse pela minha engenhoca, mais decorativa para a minha varanda, que também seria um lugar protegido para o filhote. Mas a ideia foi rejeitada, pois a mamãe pardal preferiu continuar no seu bagunçado emboladinho de palhas.

Tempos depois, eu vi o filhote de pardal caído no chão sem vida e pensei: que pena! Que pena! A casinha que lhe ofereci era mais segura, mas bem se sabe que os pássaros são seres acostumados a construir sozinhos seus próprios ninhos e leva tempo, até decidirem confiar em alguém.

Pessoas também são assim. Meu vizinho Sr. Antônio, por exemplo, era um ser humano tão carente como um pardal sem ninho. Esse solitário senhor de 80 anos, vivia doente, dentro de uma casa velha e inacabada. Ele não podia me ver passando na rua, que já me chamava para conversar e falava bastante. Conversávamos sobre tudo: família, política, doenças, futebol e religião. Às vezes, ele me pedia oração, mas durante anos, nunca correspondeu ao meu convite de irmos juntos à igreja, pois sempre tinha uma desculpa para adiar.

A igreja poderia ser sua nova casa, assim eu pensei. Um lugar de fazer amigos para curar a solidão. Lá, os irmãos poderiam orar com ele e lhe ensinar o Evangelho de Jesus Cristo. Eu o convidava para os eventos especiais, na esperança que ali, ele encontrasse a família presente que tanto necessitava. A Casa de Deus estava de portas escancaradas, onde o meu amigo poderia aninhar seus sonhos sob a orientação do Pai do Céu.

Mas triste foi o dia, quando meu outro vizinho Carlão, me contou que o Sr. Antonio havia falecido em um atropelamento. Que dia! Que triste! Que pena! Resta-me concluir, que pessoas são iguais aos passarinhos, pois preferem criar sozinhas seus próprios ninhos e leva tempo, até decidirem confiar em alguém. Enquanto isso, a vida passa.

Ao ler o Salmo 84, imagino o autor distante do edifício que muitos consideravam sagrado: o templo do Senhor, expressando a saudade de estar ali, onde os pássaros podiam adentrar livremente, enquanto ele, naquele momento não podia. O poeta estaria se lembrando de um ninho de pardal que viu quando esteve no templo, bem no canto superior do átrio, mas ao contrário de mim, que não gostei de hospedar o pássaro em minha casa, ele se encanta com a presença dos pequenos visitantes e diz: este lugar é tão amável, que “até o pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si, onde ponha seus filhotes”.

Houve um tempo, em que os tabernáculos de Israel significavam a habitação terrena do Altíssimo. E no reinado de Salomão, essas tendas suntuosas se transformaram em palácio. Multidões peregrinavam até Sião, para adorar o Senhor dos Exércitos e ali, receber a bênção. O esplendor do edifício produzia coragem nos guerreiros; era a maravilha arquitetônica da época mais próspera da história do povo de Israel; era a inspiração do saudoso poética, que declara: “pois um dia nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade” (Salmos 84:10).
 
Em seu recital carregado de sentimentos, o salmista entusiasma o povo para se achegar a Deus, nesse lugar de segurança e união. A Casa terrena Deus, o edifício erguido entre os montes, aninhava os sonhos de toda a nação.

Mas na plenitude dos tempos, Jesus Cristo transfere a devoção apegada ao templo físico, para o templo espiritual, ou seja: para dentro do nosso coração, quando Ele diz: “...nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. [...] Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores” (João 4:21,23).
 
Então, os tabernáculos do Altíssimo estarão aonde nós estivermos, porque os átrios do nosso coração pulsam e suspiram pelos Átrios Eternos, na força do Espírito Santo, que nos elevam à amável presença de Deus, pela fé. Portanto, contemple-o em seu templo espiritual que se estabelece em nós e através de nós, toda vez que nos reunimos para louvá-lo em espírito e em verdade.

Que bom será, se as nossas histórias de pardal e de solidão, nos fizerem lembrar que a Casa de Deus é um lugar de acolhimento, de segurança, de afeto, onde o pardal encontra sua casa e a andorinha faz seu ninho.

Nos altares do Senhor, encontramos paz.

Ailton de Oliveira