segunda-feira, 22 de maio de 2023

Tão diferentes e tão parecidos


"E serão os dois uma só carne; e assim já não serão dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem" (Marcos 10:8-9)

Hoje embarquei no universo infantil do escritor Hans Christian Andersen, de onde pude extrair da obra: O Soldadinho de Chumbo, uma reflexão sobre namoro e casamento, ressaltando a união entre pessoas tão diferentes e ao mesmo tempo tão parecidas.

Os personagens ganham vida na imaginação do menino, que brinca com seu presente de aniversário: uma caixa de soldadinhos de chumbo. No conjunto de vinte e cinco unidades idênticas, havia ali um bonequinho diferente, que tinha somente uma perna. Talvez, uma interferência no processo de fabricação tenha gerado o elemento incompleto, contudo, esse soldadinho se mantinha firme de pé e por algum motivo que, só o escritor poderia justificar, ele era o preferido do menino. Estaria o autor externando um sentimento escondido em sua própria história? 


Após chegar à mesa dos brinquedos, o Soldadinho sentiu-se atraído pela linda Bailarina de papel. Ela irradiava simpatia e o brilho de uma estrela de metal presa ao cabelo. Mas eles eram tão diferentes! Ele era chumbo e brincava de guerra e ela era delicada e gostava de dançar.


Chegando mais perto, o Soldadinho notou que a moça também se equilibrava em uma perna só, bailando suavemente. Então ele pensou: aí está alguém que se parece comigo. Naquele instante, o chumbo viu na delicadeza do papel, a combinação de dois projetos de vida opostos, que só um poeta inspirado seria capaz de conceber. Na mesma sintonia, a Bailarina mostrou-se interessada em conhecer o moço que tanto a observava. Se eu fosse um brinquedo intrometido, eu lhe daria uma catucada e diria: apaixonou hein?!


Christian Andersen esboça a ideia do coração solitário que experimenta o tal: amor à primeira vista. Você acredita nisso? Nossa veia romântica é condescendente ao personagem, que teme ser menosprezado, só porque é diferente. Talvez, alguém se identifique com o Soldadinho de Chumbo, ao pressupor que o personagem carrega dentro de si um desprazer, um medo de não conseguir algo, um desconforto na alma parecido com as amarguras do seu dia-a-dia. Seja qual for o aspecto que nos conecta ao enredo, desejamos que o autor escreva um final mais feliz do que seu começo, seja por uma questão de justiça compensatória, seja pela previsível determinante das novelas, onde a felicidade prevalece no último capítulo. Da mesma maneira, poderia espelhar-se na Bailarina de papel, alguém que sonha encontrar um namorado gentil, que aceite suas fragilidades e lhe faça sorrir.


Em relação à ideia de "príncipe encantado", na vida real, os homens são tão ou mais incompletos do que o nosso clássico Soldadinho de Chumbo. Em relação à "mulher maravilha", as mulheres são tão ou mais sensíveis do que a bailarina de papel. Talvez, alguma interferência na gênese desses seres complexos, tenha gerado uma parte com sérios conflitos nas estruturas da humanidade, contudo, os casais precisam aprender a se equilibrar, a se manterem de pé e valorizarem o relacionamento na forma mais saudável que conseguirem, pois Deus fez homem e mulher, para se tornarem através do casamento: uma só carne.


O casamento foi instituído por Deus, para que homem e mulher se completem e sejam felizes. Que as orações dos enamorados possam chegar na escrivaninha do Divino Poeta, Criador dos seres apaixonados, o Deus que pode tirar da caixa um milagre diferente de todos os outros, o maior dos milagres: o amor.


O tempo passará e a fogueira da vida consumirá o vigor, os cabelos brancos e o equilíbrio das pernas. Se o soldadinho cair, com o mesmo amor de sempre, a bailarina cuidará de seu companheiro. E se um dia a Bailarina chorar, ela não estará só, porque juntos, eles são uma só carne, mesmo sendo tão diferentes e tão parecidos.


Que Deus abençoe você e a sua paixão!


Ailton de Oliveira